11 de março de 2014

Ética na tradução

Uma tradutora membro de um dos maiores grupos de Tradutores/Intérpretes do Facebook pediu a opinião dos colegas sobre uma questão que já deixou vários de nós angustiados: deixar seu cargo de tradutora em regime CLT e passar a trabalhar como autônoma. Os conselhos da maioria dos colegas foram repletos de bom-senso e incentivo: vale a pena, mas é necessário se planejar antes, traçar estratégias, conquistar clientes por conta própria para, aí sim, sair da empresa.


Entretanto, um dos tradutores sugeriu à colega que ela descobrisse quais eram os clientes para quem a empresa dela traduzia e oferecer seus serviços a eles por valores inferiores. Questionado sobre a falta de ética de um comportamento como este, o tradutor ratificou sua sugestão afirmando que esta é uma prática comum para se entrar no mercado.

Comum ou não, não é ético. Ademais, é ilegal. A colega, no caso, utilizaria informações privilegiadas para "roubar" clientes de seu próprio empregador. E ela provavelmente assinou um NDA (non-disclosure agreement, acordo de confidencialidade que todos nós tradutores assinamos com cada agência, caso o tradutor em questão nunca tenha ouvido falar), o que a faria infringir os termos do acordo e um dos pontos nevrálgicos da nossa profissão: a confidencialidade.

Tradutor precisa ser confiável. Grande parte dos documentos que passam por nós são confidenciais; eles somente serão divulgados futuramente e, em muitos casos, a divulgação será extremamente restrita.

Como um tradutor poderia, então, declarar abertamente que infringe termos como este em um grupo de mais de 5.000 membros (incluindo-se aqui agências e tomadores de serviço)? Que colega poderia dividir trabalhos e confiar em um tradutor que "rouba" clientes?

A sugestão do tradutor não é só antiética, mas ilegal e burra. Muitos dos nossos clientes vêm através de indicação. Não são só os amigos, familiares e colegas que nos indicam, mas outras agências. Uma agência satisfeita com nosso trabalho nos indica, sim, para outras agências. Um PM, quando muda de agência, leva consigo seus contatos, os tradutores bons e de confiança.

Usar informações privilegiadas em benefício próprio pode trazer clientes, mas pode trazer também processo judicial, condenação, indenização e nome manchado no mercado.



Março/2014